Resumo Neste artigo, exploro as variações semânticas da noção de deserto e sua relação com movimento entre os quilombolas de Família Magalhães (Nova Roma, GO). O grupo é originário dos kalungas, negros escravizados em fuga que viviam, desde o século 17, escondidos pelos vales do rio Paranã. A dose de invisibilidade que a região lhes proporcionava foi essencial para garantir sua existência em liberdade. Se hoje a região é tida pelos munícipes como lugar de falta, um deserto em vias de desaparecer, os Magalhães fazem dela potência criativa. É sob a iminência do deserto que tais quilombolas percorrem suas trilhas, entrelaçam movimentos, se produzem continuamente enquanto povo “amigueiro”, cultivam relações de vizinhança, intervêm nas políticas públicas sobre suas terras. Cultivar relações de amizade é, por um lado, condição necessária para que saiam do deserto e, por outro, o deserto é necessário para manterem o seu modo ser.
Abstract In this article, I explore the semantic variations of the notion of desert, and its relation to territory and movement among the maroon community ‘Família Magalhães’ (Nova Roma, Goias, Brazil). This community descends from the Kalunga, who were a large group of enslaved people hiding in the valleys of the Paranã river between the 17th and 19th centuries. Difficult access to this region ensured that the Kalunga could live and thrive as free men and women. Although people now living in the town of Nova Roma say that it lacks everything, and that the whole region is fading into a desert, the Magalhães are able to extract its creative potency. It is under the shadow of this seemly inescapable desert that the Magalhães wander through their trails along the Paranã river, cultivate relationships in the neighborhood, and intervene in public policies concerning their land. They constantly produce themselves as an “amigueiro” (friendly) people, but always in relation to the desert that is and ought to be. For the Magalhães, cultivating friendships is a necessary condition for leaving the desert, but, at the same time, the desret is necessary for their way of being.
Resumen En este artículo exploro las variaciones semánticas de la noción de desierto existentes entre los quilombolas de la Familia Magalhães (Nova Roma, GO) y su relación con el movimiento. El grupo tiene su origen entre los kalungas, esclavos que, desde el siglo XVII, huyeron y vivieron escondidos en los valles del Río Paranã. La condición de invisibilidad que proporcionaba la región fue esencial para garantizar su existencia en libertad. Y si hoy para los habitantes del municipio esa región es un lugar de falta, un desierto en vías de desaparición, para los Magalhães es un lugar que han transformado en potencia creativa. Es en el desierto inminente que estos quilombolas recorren sus senderos, entretejen movimientos, se producen continuamente como un pueblo “amigueiro”, cultivan relaciones de vecindad e intervienen en las políticas públicas sobre sus tierras. Para ellos, cultivar relaciones de amistad es condición necesaria para salir del desierto, así como el desierto es, por otro lado, necesario para mantener su manera de ser.